“se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava” (Nelson Rodrigues)
Há um certo pensamento bastante difundido de que o amor e a intimidade não combinarem com sexo e erotismo, naquela máxima de que a existência do novo e do misterioso seria essencial para que houvesse o tesão. Claro, que há um pouco desse fetiche, pelo menos no meu caso, o de conhecer o outro pela primeira vez e suas vontades. Mas não sei como é com vocês, mas comigo eu nunca consigo relaxar 100% ainda que esteja colocado.
Tente lembrar seus últimos sexos com desconhecidos e aposto que em muitas delas virão a sua cabeça cenas de posições emaranhadas e mal encaixadas, aquele desconforto de se deixar ver pelo outro nas posições que menos te favorecem, o efeito do álcool passando e a inibição voltando e fazendo com que você e o cafuçú se percebendo como dois estranhos dividindo, de maneira incômoda, o mesmo recinto… Aquele silêncio constrangedor… “Tá frio, né?”.
Calma, beesha, não é moralismo, sou super defensor – e quando solteiro “praticante” – do sexo casual. Comer e dar pra quem se quer, na hora que se quer e quanto se quer sempre! O tema aqui é a qualidade e para mim a intimidade é um quesito fundamental. Não tem aquela da “a prática leva a perfeição?”. Então, sou desses. O amor também sabe ser pornô e indecente. Não tem dessas de pai-e-pai, não.
Só com muita intimidade eu me sinto confortável para revelar as vontades mais toscas, as taras mais sinistras sem medo de ser feliz ou de ser taxado como pervertido. Somente quando confiamos em alguém nos atrevemos a partilhar coisas das quais normalmente nos envergonharíamos. É entre quatro paredes e embaixo dos lençóis que o incêndio acontece. Lá dá pra estar no puteiro mais baixo e sujo, ser puta, ser santa, traficante, índia, japonesa, cafetão, cu apertado, cu largo, neca grande, rolinha… com conforto e segurança (pode me chamar de classe média, nem ligo).

“Faço, claro…”
Não existe putaria maior que saborear sem nojo a pessoa que você conhece por inteira, sem frescuras ou restrições. É uma delícia nos sentirmos confortáveis com nossos desejos mais íntimos quando encontramos alguém com quem fazer um pacto secreto de conivência diante das nossas “esquisitices”. “De perto ninguém é normal!”. É fantástico admitir nossa fragilidade e permitir que o outro faça conosco algo que jamais nos submeteríamos com um estranho. É lindo sentir o laço de lealdade se aprofundando a cada aumento de devassidão. Algo como “o que acontece aqui, fica aqui”, e para isso tem que se ter muita confiança e intimidade.
Vocês concordam?