Aconteceu num butequinho pé-sujo da periferia da Grande Vitória já há algum tempo. Estavam duas travas socializando quietinhas no canto delas, quando um cafuçú magia-negra de meia-idade mal encarado, virou pra uma delas e gritou:
– Viado, vem cá!
A trava olhou com a aquela cara desconfiada, mas solícita.
Ele virou pra mona e gritou apontando pra si e pro amigo:
– Paga uma cerveja pra gente, baitola!
-Oi, gato?
– Paga uma cerveja pra gente, bicha, tô mandando!
“É claro”, respondeu a trans. E foi indo até o bar…
A trava pediu uma lata de cerveja e dois copos. E entregou na mesa do cacura. E ele:
– Me serve, vadia, me serve!
A trava toda presenteira abriu elegantemente a lata e divamente serviu o copo dos dois caras. E o véio, não satisfeito, ainda completou falando com ar vitorioso para o amigo:
– Tá vendo, é assim que trata viado!
Pra que, bicha?! A travesti rasgou com as mãos a latinha vazia que estava segurando, criando uma navalha improvisada e desferiu um golpe certeiro na cara do homem. Viado, quem estava lá diz que foi uma das cenas mais medonhas já vistas! Espirrou sangue pra tudo quanto é lado. A pele se partiu e expôs a parte interna da boca; pela bochecha dava pra ver dentes e a língua do abusado. O corte foi tão profundo que as ligações do maxilar se romperam e o queixo ficou pendurado de um lado. Claro, acabou todo mundo na delegacia…
E se esse tiozão aprendeu alguma coisa naquela noite foi:
Apenas…
…não mexa com as travas!