Não, lindas, eu não sumi porque enjoei do blog, como algumas propuseram. Desapareci por uma razão específica, e quero dividir com vocês.
Nota-se que eu mudei bastante desde o início da transição. Tanto fisicamente quanto psicologicamente. Como resultado, isso tem me trazido experiências diferentes para as quais não estava preparada.
Mas o que mais tem me frustrado e me feito perder o tesão em publicar no blog, é o comportamento de alguns gays diante da minha transformação.
Qualquer comentário que eu faça sobre transfobia, ou sobre um assunto que incomode os “G” dos LGBT’s é recebido com muita misoginia e comentários do tipo: “Acho que você deveria reduzir esses seus hormônios, estão te deixando louca”.
Como se eu fosse um barril de hormônio ambulante e tivesse perdido toda a minha credibilidade intelectual num debate.
Quer dizer, o ódio ao feminino é tanto, que por eu ter me assumido mulher passo a ter todas as minhas opiniões destoantes do hegemônico consideradas “histeria feminina”.
E as mulheres cis passam pela mesma situação diariamente, nós sabemos. Será que os homens não percebem o quanto isso é absurdo e ofensivo?
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Tudo isso me fez pensar: Pra quê eu vou ajudar esse grupo que só tem me dado tapa na cara depois da transição? Que sequer tem a humildade de admitir que falou algo ofensivo ou transfóbico porque na cabeça deles eu não deveria me ofender com isso?
Opa, quem determina o que ofende ou não é o oprimido, não o opressor!
E o pior, por que eu vou continuar ajudando essas pessoas que insistem em dizer que eu “virei mulher”? Sendo essas mesmas pessoas as que não admitem ouvir que “viraram gays”?
Será que o movimento GGGG, ops, “LGBT”, merece continuar recebendo minhas contribuições?
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Lógico que eu vou ouvir: “Nossa, Sarah tá se ACHANDO agora, só porque se assumiu trans acha que é a última Coca Cola do deserto”.
Não, meus amores, eu sei do meu valor, eu sei quantos leitores eu já ajudei com meus posts, minha caixa de e-mail e os comentários aqui não me deixam mentir, eu tenho um papel importante na cena LGBT.
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Porém, repensei, conversei com o Dé e outros leitores e tal. E cheguei a conclusão de que, por mais que eu receba pedradas e muita misoginia dos gays aqui, não posso fazer como a sociedade (que julga todas trans como marginais, safadas, dissimuladas e criminosas) e julgar todos os gays a partir de meia dúzia de comentários maldosos.
E por isso resolvi voltar, um pouco diferente, mas tentarei manter o mesmo humor, sagacidade e empatia que vocês já conhecem e adoram.
Espero que curtam a nova autora do blog ❤