
“Ah uh uh ah!”
No domingo foi ao ar no Fantástico uma entrevista com a Roberta Close de nossos tempos, a modelo Lea T. Para quem não sabe, há mais de um ano, ela se submeteu à cirurgia de transgenitalização. Sim, gata, onde havia um piru agora tem uma buceta.
Logo depois da entrevista, muitos dos representantes de grupos de movimento LGBT ficaram em polvorosa, postando repúdio ao que foi dito, porque para eles Lea fez uma representação da mulher trans equivocada em tv aberta. Veja a entrevista e tire suas conclusões antes de discutirmos o assunto:
As principais críticas iam no sentido de que Lea havia afirmado que a cirurgia não foi algo que a fez se sentir completa e feliz e outra de não se identificar como mulher.
Vimos na entrevista que ela está ainda sensível, em decorrência não apenas da cirurgia física, mas, principalmente pelos seus aspectos emocionais.

in your face
Partindo disso foi que ela despejou uma série de verdades incômodas, tais como não ser a presença ou ausência de pênis ou da vagina algo que traria a felicidade plena a uma pessoa; que o ser humano é mais, muito mais do que a sua genitália.
E, para mim, o mais interessante de tudo foi ela dizer que a cirurgia de “readequação” é algo muito mais pra agradar a sociedade do que muitas vezes a própria pessoas trans. VRAW! #NavalhadaLouboutinNaCara
De fato, são os padrões em que vivemos que dizem que toda mulher tem que necessariamente ter o órgão sexual específico, a vagina, para ser mulher. Mas assim como há homens sem pênis (amputados, por exemplo), por que não poderiam existir mulheres sem vagina? Não estaria as próprias transex se curvando a normatização social?
Entendo que para os movimentos de direitos homossexuais, a difusão de um pensamento apoiado no que Lea disse pode incorrer em um corte de direitos de classe, em especial de programas de saúde públicos, tais como as cirurgias de readequação gratuitas feitas pelo SUS. Acontece que Lea não falou em nome das pessoas trans, falou apenas por si mesma, a partir do que sente.
Com isso botou o dedo na ferida tanto do pensamento machista que vê a mulher como o ser sem pênis, quanto dos homossexuais normatizadores que tentam simplificar a transexualidade, mostrando que ambos muitas vezes estão bem juntinho e abraçadinhos, mas jurando que não. Tipo bicha enrustida, sabe?
Um dos problemas do movimento LGBT é se apropriar do corpo do outro e tentar utilizá-lo como dispositivo político, algo como “Lea é famosa e transex, então ela TEM que pensar e agir assim, assim e assim”. Sei que a causa é nobre, mas a pessoa é uma pessoa não uma coisa, não é?
Mas de tudo, acho que ficou para a sociedade brasileira foi o carinho enorme que seu pai jogador de futebol, Toninho Cerezo, tem por ela, tratando-a como filhA. E isso é o mais importante.
Um texto legal sobre o caso aqui.