Antes de começar a falar sobre um tema que está me afligindo há muito tempo, cata o vídeo abaixo:
Engula o seu recalque e só abra a sua boca quando a senhora fizer metade do que Thaisa Maravilha faz com o bum bumbum girando dela, beleza?
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Mas não é sobre a dança delas que eu quero falar, é sobre a coragem que elas tiveram de gravar as cenas no meio da rua, com as pessoas passando.
Que eu sou pintosa todo mundo sabe, o que pouca gente sabe é que a linha pintosa que eu faço é diferente da caricatice habitual. Só tenho roupa preta, estou sempre sério e não tem um dia que não vá pra faculdade sem um livro numa mão e um cigarro na outra. Isso porque acho que para uma bee impor respeito um livro e um cigarro são elementos fundamentais.
Enquanto o cigarro dá um ar de transgressão típico de todo gay, o livro (de preferência uma literatura antiga com um título bem confuso) simboliza que você é consciente e bem-informada… por isso não vale 50 Tons de Cinza nem Harry Potter, tsá?
Mas e a bee de shortinho jeans, camiseta amarrada e cabelo colorido que você encontra na boate? Já parou para pensar no que ela passou até chegar naquele rock e te agraciar com a sua presença revolucionária?
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Tenho várias delas adicionadas no meu Facebook, gosto de acompanhar a evolução do comportamento do gay mais moderno que eu, porque eu mesmo, sinto informá-las, estou velha. Não tenho mais aquela força para apanhar no Triângulo em dia de Copa do Mundo e sair no jornal dando bafão.
Esses dias fiz uma pesquisa de campo e, dentre as que moravam na periferia, a maioria disse sofrer menos preconceito “na comunidade”, que o preconceito começa mesmo quando elas chegam no centro urbano.
Fiquei pensando… será? Porque se você observar no vídeo, as pessoas que passam em volta realmente parecem tratar com uma naturalidade até assustadora a imagem das beeshas rebolando, e se arreganhando em posições ginecológicas.
E é comum que as gays moradoras da comunidade frequentem os bailes funks da sua região. Claro que sofrem preconceito, ouvem algumas piadas de mau-gosto (e quem não ouve?), mas são categóricas quando dizem que preferem ser chamadas de viadinho pelo boladão no baile que de pão-com-ovo pela bombada esnobe da boate.
E não venha dar uma santa não, tá? Porque os olhares de vocês são tão sinistros que muitas nem precisariam falar pra fazer uma novinha chorar.
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Não me canso de repetir, se você se considera rica, “discreta”, “não afeminada”, “macha pra caralho”, dentre outros termos masculinistas, e por esse motivo acha que é superior a quem é o contrário disso, PARE JÁ!
Você acha que é assim:
Mas a sociedade te enxerga assim:
Você só pode sair com seu namoradinho discreto como você, ser não-afeminado na orla da praia, enquanto anda de mão dada com seu brother, porque muita bichinha pão-com-uma-dúzia-de-ovos deu e dá a cara a tapa todos os dias pelos seus direitos.
Não que a sua luta seja menor, não estou dizendo isso, mas a gay da periferia leva a imagem da homossexualidade para os lugares de onde sairiam uma boa parte dos agressores que tentariam te bater na porta da sua boate de luxo, compreende?
Nem adianta dizer que ser discretona é a maneira mais fácil de ser aceito pela sociedade, NÃO! A visibilidade é a melhor e mais rápida forma da sociedade engolir que os gays (ou qualquer outro grupo marginalizado) existem e devem ser respeitados, sem que pra isso tenham de se fantasiar de héteros.
Basta observar a história da luta gay. Quando foi que começamos a adquirir nossos direitos? Quando começamos a gritar que existimos, não é verdade? Qualquer livrinho de literatura homoerótica te mostra que quanto mais discretos eram os gays da época, menos direitos tinham à liberdade.
E se elas conseguem ser respeitadas lá, aos trancos e barrancos, nossa obrigação é fazer o mesmo aqui.
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Por favor, vamos colocar UM FIM no preconceito de classe social! Nós temos uma causa muito maior, que a quantidade de zeros do seu extrato bancário, para lutar juntos.
Não olhe torto pra beesha que vai de mochila pra boate e esparca no meio da pista, não julgue inferior a bee de shortinho jeans com a neca sofrida amassada dentro da cueca do irmão mais novo.
Porque não existe essa história de fulano merecer mais respeito que beltrano. Todos são iguais perante a lei, independente da origem ou do comportamento das pessoas.
Falando a verdade, cagando pra lei, sempre vai existir uma gay mais rica e mais padrão Globo de qualidade que você que vai fazer o mesmo contigo, e você não vai gostar. Então pense duas vezes.
Como disse a sábia filósofa e epistemóloga: